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FIGURA 1. ESCOLIOSE NUMA CRIANÇA, NA QUAL FOI REALIZADA UMA HASTE PRÓPRIA PRA DISTRAÇÃO CORRIGINDO A DEFORMIDADE, PARA QUE O PACIENTE POSSA CRESCER, ANTES DE REALIZAR A CIRURGIA DEFINITIVA.
O diagnóstico de escoliose é mais comum do que imaginamos e chega a estar presente em até 3% da população em geral. A escoliose é definida quando existe uma curva na coluna maior do que 10o no plano coronal (olhando de frente ou de costas). Ela pode ser dividida em:
1) Escoliose Idiopática (mais de 80% dos casos)
2) Escoliose congênita
3) Escoliose neuromuscular
4) Escolioses secundárias a outras doenças
Falaremos aqui da Escoliose Idiopática, por ser a mais frequente na população em geral. O termo "idiopática” é sinônimo de "sem causa”, isto é, nenhuma origem é encontrada para o seu surgimento. Ela é normalmente dividida em 4 grupos de acordo com a idade de início:
1) Do nascimento aos 3 anos de idade - escoliose infantil
2) De 3 a 9 anos de idade - escoliose juvenil
3) De 10 a 18 anos - escoliose do adolescente
4) Após 18 anos – escoliose do adulto
O risco de progressão da curva é maior durante a puberdade, quando a taxa de crescimento do corpo é mais rápida. A Escoliose, nessa faixa etária, é muito mais prevalente em meninas do que em meninos e meninas são oito vezes mais propensas a precisar de tratamento para escoliose. Ainda assim, a maioria dos casos de escoliose são leves e não requerem tratamento.
É importante observar que a escoliose idiopática pode determinar deformidade da coluna vertebral e das costelas, porém a dor nas costas é rara.
Em crianças e adolescentes, a escoliose muitas vezes não têm nenhum sintoma visível. A escoliose muitas vezes não é perceptível até que a curva tenha progredido significativamente.
FIGURA 2. SINAIS DE ESCOLIOSE.
• Um ombro é mais alto do que o outro
• Um lado da caixa torácica parece maior do que o outro
• Um quadril aparece mais alto ou mais proeminente do que o outro
• A cintura pode parecer desigual
• O corpo se inclina para um lado
• Uma perna pode parecer menor do que a outra
O diagnóstico precoce é essencial para que o tratamento da escoliose seja mais eficaz. Em geral, as pessoas com história familiar de deformidade da coluna vertebral estão em maior risco de desenvolver escoliose.
Para uma avaliação completa, é fundamental consultar um especialista em coluna para avaliar clinicamente pelo exame físico e, adicionalmente, com exames complementares de imagem.
A decisão do tipo de tratamento é baseada principalmente em dois fatores:
Em geral, quanto maior o valor angular da curva e menor a maturidade esquelética do paciente, mais provável é a progressão da escoliose.
FIGURA 3. MENSURAÇÃO DO ÂNGULO DE COBB, PARA PROPOR O TRATAMENTO AO PACIENTE.
É realizada com observações periódicas clínicas e de exames de imagem de 4 a 6 meses durante a fase de crescimento. Geralmente está indicada em curvas menores do que 20o.
As órteses são projetadas para diminuir a progressão da curva, mas não reduzir a quantidade de angulação que já está presente. A grande progressão da curva acontece durante a fase de crescimento da criança e adolescente, e uma vez que o crescimento acabou, há pouca probabilidade de progressão de uma curva. Portanto, as órteses geralmente são mantidas até o término do crescimento do indivíduo. Esses dispositivos geralmente estão indicados em curvas entre 20 e 40o..
Existem dois tipos de coletes comumente utilizados: uma órtese cérvico-tóraco-lombossacra (CTLSO – Milwaukee) e uma órtese tóraco-lombar sacral (TLSO). O modelo correto de colete e sua real indicação sempre deve ser avaliado por um médico especialista.
FIGURA 4. CORREÇÃO CIRÚRGICA DEFINITIVA DE ESCOLIOSE.
A cirurgia para a escoliose idiopática começa a ser recomendada quando as curvas são maiores do que 40 a 45 graus e continuam a progredir, e para a maioria dos pacientes com curvas maiores que 50 graus. Essa avaliação sempre deve ser feita em conjunto com o exame físico do paciente e deve ser avaliada criteriosamente caso a caso. O objetivo da cirurgia da escoliose é reduzir a curva e evitar a progressão da deformidade.
Curvaturas graves (maior que 50 graus) são mais propensas a progredir na vida adulta. Quando uma curva progride para 70-90 graus, ela não só determina uma deformidade muito ruim, mas muitas vezes pode resultar em comprometimento cardiopulmonar, por diminuir o espaço disponível para os pulmões e o coração.
Normalmente, cerca de 50% ou mais de correção pode ser obtido com a cirurgia utilizando sistemas de instrumentação (materiais cirúrgicos) modernos. Esses materiais utilizados são compostos por parafusos, ganchos e hastes metálicas com o objetivo de manter a coluna alinhada.
Uma vez que ocorre a fusão óssea após a cirurgia, a coluna vertebral não se move naquele segmento e a curva pára de progredir. Geralmente não é necessária a remoção dessas hastes e parafusos.
A cirurgia é realizada na região posterior da coluna (parte de trás das costas) e em alguns casos especiais e raros de curvas rígidas, pode ser associada uma cirurgia pela frente.
Geralmente o procedimento tem duração média de 3 a 5 horas. Em todos os casos são utilizados equipamentos especiais de monitoração da função neurológica do paciente durante todo o procedimento de correção da curva (potencial evocado somatossensitivo).
Após a cirurgia da escoliose, os pacientes geralmente começam a sentar na cama no dia seguinte e andar no segundo dia após a cirurgia. O tempo de internação hospitalar total é geralmente de 3 a 4 dias. Os pacientes podem voltar para a escola/trabalho cerca de 2 a 4 semanas após a cirurgia, mas sua atividade esportiva deve ser limitada até a consolidação óssea da cirurgia (fusão/artrodese). Esse tempo leva de 4 a 6 meses. As demais atividades são liberadas.
Não há necessidade de coletes após a cirurgia, muito menos deixar de fazer sua atividade habitual. Entretanto, é importante notar que alguns movimentos podem ser um pouco limitados e até causar dor nos primeiros três meses após a cirurgia. Esses movimentos são o de flexão total da coluna (dobrar a coluna para a frente), levantamento de pesos e torção do tronco (girar o tronco com o quadril parado).
Geralmente, o paciente é acompanhado com exames periódicos de raio-x para avaliar a consolidação óssea (fusão) da cirurgia até os primeiros 6 meses da cirurgia. Após este período o acompanhamento é anual. Uma vez que o osso teve uma fusão sólida, nenhum outro tipo de tratamento é necessário. Os pacientes podem retomar níveis normais de atividade após a consolidação da cirurgia e não há limitações residuais. Pacientes do sexo feminino podem engravidar normalmente e até ter parto normal.
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